quinta-feira, 21 novembro 2024

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Especialistas estudam lagarto Chinel “Chioninia vaillantii” na ilha do Fogo e nos Ilhéus Rombos

Uma missão técnica coordenada pela investigadora Raquel Vasconcelos encontra-se na ilha Fogo e nos Ilhéus Rombos para estudar o lagarto Chinel “Chioninia vaillantii” uma espécie endémica listada como ameaçada pela União Internacional para Conservação da Natureza.

A investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade de Porto (Portugal) disse à Inforpress que a missão tem o apoio da Direcção Nacional do Ambiente (DNA), do Projecto Vito e de outros investigadores das universidades de Aveiro e de Coimbra (Portugal) e tem como objectivo realizar um estudo para a conservação dos répteis terrestre da ilha do Fogo e dos Ilhéus Rombos.

Estes repteis, explicou, são poucos estudados apesar de algum trabalho realizado em que se respondeu a questões básicas do que é que existe, onde e como se pode protege-los.

Agora, continuou, o objectivo é estudar aspectos da biologia básica, tais como o que comem, como se reproduzem, quais os condicionantes ambientais necessários para a presença das espécies em cada uma das regiões, indicando que vai-se incidir no lagarto Chinel, de nome cientifico Chioninia, cujo subespécie vaillantii, apenas existe na ilha do Fogo e nos Ilhéus e em mais nenhum lugar do mundo.

“O lagarto Chinel é uma espécie considerada em perigo pela União Internacional para conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês)  porque a sua população está “muito fragmentada” e a qualidade de seu habitat está diminuindo,  por isso é preciso saber mais para poder planear melhor as acções de conservação da espécie.

Segundo a investigadora, o Chinel tem uma zona específica identificada através de poucos pontos de observação e esta missão visa tentar melhorar e saber se existem em mais localidades e com base no conhecimento, saber quais são as temperaturas e humidade necessária para a presença da espécie em determinado espaço geográfico.

A mesma fonte observou que o modelo anterior indica que esta espécie está confinada a zona nordeste  da ilha do Fogo e Ilhéus Rombos (Ilhéu de Cima) e não existe por exemplo na zona sul que é mais seca e mais quente, desconhecendo qual das variáveis é mais importante.

O projecto, financiado pela DNA, tem a duração de um ano, mas a missão tem a duração de mês e, além da investigadora, é integrada por um estudante de mestrado da Universidade de Coimbra.

Alem do levantamento e recolha de dados será ministrado formação aos técnicos do Projecto Vito, responsável pela sua execução, para dar continuidade aos trabalhos, mas a investigadora espera retornar para dar seguimento a esta linha de investigação.

Os técnicos já visitaram os Ilhéus Rombos e no dizer da Raquel Vasconcelos foi útil para compreender o impacto que os ratos estão a ter sobre os répteis, “um impacto negativo”, e tentar pensar em medidas para contornar esta questão e conservar a espécie.

A população dos répteis nos ilhéus em comparação com a ilha do Fogo tem “menor numero de efectivos de indivíduos maduros” e está mais confinado a alguns lugares, o que se explica talvez pelo facto de os ilhéus serem mais secos, mais quentes, ou as duas variáveis em simultâneo, a presença dos roedores que está “extremamente distribuído” e com impacto “muitíssimo negativo”, não só na vegetação como nas aves e nos próprios repteis que são mais pequenos e não se conseguem defender-se.

Questionada sobre importância dos estudos, Raquel Vasconcelos disse que os répteis são grupos de vertebrados mais importantes de Cabo Verde, porque, “em princípio, não há mamífero endémico nas ilhas e não se sabe muito sobre os morcegos”, que as aves existem, mas muitas delas têm presença noutros lugares do mundo, ao contrário dos répteis que tem 31 espécies e subespécies únicas em todo o mundo, isso, segundo a mesma, “é de um valor patrimonial de que Cabo Verde se deve orgulhar”.

Por outro lado, afirmou que em muitos lugares do mundo o ecoturismo (o turismo baseado na natureza) é uma fonte de rendimento, mas para além disso os organismos têm o valor intrínseco e pode-se “aprender bastante” sobre eles e ter mais conhecimentos que podem ser aplicados noutras áreas.

Apontou como exemplo a forma como as osgas conseguem subir superfícies hiper-lisas, o que pode ser aplicada em engenharia para subir superfícies verticais da mesma maneira.

Outrossim apontou como exemplos de vantagens os medicamentos que se podem extrair do veneno das serpentes ou outras aplicações práticas, observando que o conhecimento é em si importante para a preservação dessas espécies e para que este património se mantenha vivo.

“Alem de aplicação prática que será tentar esboçar um plano de conservação, vai haver resultados académicos, pois o estudante de mestrado terá de apresentar uma tese, vamos tentar produzir artigos científicos que disseminarão esses conhecimentos a nível internacional, em revistas de prestígios, e relatórios e informações que serão traduzidos em português para o público de Cabo Verde”, disse.

O responsável do Projecto Vito, Herculano Diniz, afirmou, por seu lado, que este projecto resultou da vontade da DNA em apoiar os estudos e conservação da espécies de Chinel, no  caso concreto, e da colaboração tripartida entre a DNA, através da delegação do Ministério da Agricultura e Ambiente (MAA), Projecto Vito, que faz a coordenação logística, e CIBIUS responsável pela coordenação cientifica juntamente com outros investigadores do mesmo centro para garantir a qualidade e o valor cientifico de todo o trabalho que está a ser realizado.

“É um projecto-piloto com uma pequena subvenção, 800 contos, com três componentes, educacional, que visa trabalhar com as escolas e disseminar o conhecimento na comunidade e nas escolas, parte laboratorial que está a ser executado agora, e o trabalho de campo, já realizado nos Ilhéus Rombos e continua na ilha do Fogo”, disse Herculano Diniz, indicando que na fase posterior será realizado todo o trabalho de elaboração dos relatórios, trabalhos científicos de análises e produção de artigos e trabalho de final do curso.

Para o responsável do Projecto Vito, a ideia é dar continuidade a esta colaboração com a DNA e com CIBIUS, razão pela qual já submeteu um projecto um pouco mais ambicioso para o Fundo de Ambiente, no quadro da convocatório que terminou em Abril, com intuito de dar continuidade ao trabalho de investigação dessa espécie, mas abrangendo outras ilhas e alargando todas as actividades.

Inforpress/Fim

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