A previsão de produção de café para este ano é fraca e vai ser ainda pior que a colheita de 2018, que também foi um ano de má produção, prognosticam alguns produtores e guardas das propriedades de cafezal.
Numa conversa com alguns guardas das propriedades de café, como Bonga e Mindelo, e de produtores de café Josezinho e Rosério Rodrigues, estes foram unânimes em afirmar que a produção “é péssima” este ano e, para alguns, poderá situar-se à volta de 50 por cento (%) da produção de 2018, que também foi “um mau ano” de colheita de café.
O factor climático, nomeadamente a fraca queda de chuva, não favoreceu muito a produção e, segundo Rosério Rodrigues, a ausência da ocorrência de chuva de tarde, denominada de “calenda”, que ocorre nos meses de Janeiro e Fevereiro, período de floração da planta do cafeeiro, é determinante na produção.
Caso não ocorra, admitiu, “os frutos não crescem, pelo contrário, aborta os frutos e tudo fica sem produção”.
“Nenhuma planta consegue sobreviver com a chuva de dois meses num ano”, disse aquele produtor, indicando que a “calenda” que ocorre depois do período de às-água e no momento que o cafeeiro começa a formar o seu fruto, em Abril, é determinante.
Se o terreno estiver seco, explicou, as flores caem, afectando assim a produção do ano seguinte, acrescentando que o café precisa que haja chuvas em meses diferentes, além das chuvas do período tradicional de às-água.
Segundo o mesmo, nas zonas altas, que é mais fresca e está perto do perímetro florestal com pluviosidade oculta através de condensação de vapor de água, que entra em contacto com as folhas, “vai produzir um pouco”, mas a “produção é quase nula, muito pior do que no ano passado em que não houve boa produção e será quase metade da colheita de 2018”.
Outro produtor contactado pela Inforpress, de nome Josezinho, é da mesma opinião e considera que este ano a produção de café “é mais fraco do que no ano passado” devido ao problema relacionado com a ausência de chuva, sobretudo a “calenda”.
A fonte observou que nas zonas altas, perto do perímetro florestal de Monte Velha, que é húmido, a produção é melhor que nas zonas intermédias e baixas, sendo que na parte baixa, como Monte Barro e Pai António, por exemplo, a produção é mesmo nula por falta de chuvas.
Para Rosério Rodrigues, há quatro anos consecutivo de má produção, sendo este o pior de todos, observando que a perspectiva é para piorar, ano após ano, se a chuva continuar a cair de forma irregular.
Para ele só a renovação de plantas com fixação de novas não vai melhorar a produção, observando que “a planta nova precisa de água e se não houver morre”, sublinhando que as plantas velhas cujas raízes são mais profundas conseguem resistir melhor do que as novas e produzir alguma quantidade.
Para este proprietário, o café “já não é o que era” e quem depende apenas do café “não tem vida”, pois é preciso arranjar alternativas para poder sobreviver.
Os guardas de várias parcelas de cafezais e que estão mais de perto em contacto com a realidade, caso de Bonga e Mindelo, consideram que a produção de café este ano “é leve, muito pior que em 2018”.
Segundo Bonga, existe zona com produção razoável, mas há outras que tem alguns grãos, e outras, como a zona baixa, onde a produção é nula, opinião compartilhada por Mindelo, outro guarda com quem a Inforpress conversou.
Um outro guarda, de 34 anos, e que sempre esteve ligado ao sector, avançou que em termos de produção de café, este ano, é o pior de que tem memória, notando que há sítios onde a produção será nula.
O café é cultivado principalmente na área montanhosa e fértil dos Mosteiros, envolto por diversos microclimas e sem presença de produtos químicos (produção orgânica), ocupando toda a zona alta desde Relva até Atalaia.
Com Inforpress