segunda-feira, 25 novembro 2024

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Mulher não é propriedade de ninguém

Cerca de duas centenas de pessoas saíram hoje à rua, na capital cabo-verdiana, para marchar pelo fim da violência contra as mulheres e pela igualdade de géneros.

“Mulher não é propriedade de ninguém”, “eduque seu filho” e “saiba ouvir não” foram as frases mais ouvidas.

A iniciativa, lançada pelo jovem Rudy Barros, através das redes sociais, e prontamente abraçada pela associação Cabo-verdiana de Luta Contra Violência Baseada no Género (ACLCVBG) e pelo Instituto Cabo-verdiana para Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), teve, segundo o mentor da marcha, as expectativas alcançadas.

Pessoas de todas as idades começaram a comparecer à hora marcada, 16h00, nas proximidades da rotunda da Fazenda para participar desta marcha, convocada numa altura em que o país tem registado vários casos de homens que mataram suas ex e actuais companheiras.

O último caso, recorde-se, aconteceu no domingo, 16, em que um homem matou a ex-companheira e cometeu suicídio, pulando de um prédio, em Achada Grande Frente, na Cidade da Praia.

Ainda na semana passada, um outro indivíduo matou a ex-companheira à facada, na localidade de Alto São João, ilha do Sal, e tentou suicidar-se logo de seguida, atirando-se contra uma viatura, tentativa frustrada, mas que resultou em ferimentos numa perna do homem.

Carregando cartazes com mensagem do tipo “mulher não é propriedade de ninguém”, “eduque seu filho para aceitar um não”, “saiba ouvir não”, “nu defende vida”, os participantes desta marcha fizeram o percurso Fazenda-Avenida Amílcar Cabral- Rotunda Homem de Pedra -Platô, com palmas e apitos em homenagens às mulheres e meninas vítimas de violência.

A mesma terminou na Praça Alexandre Albuquerque, no Platô, onde foram lançados pombos para simbolizar a paz. Houve ainda um momento de oração em homenagem às vítimas de feminicídio.

No final, o mentor da iniciativa, Rudy Barros, era uma pessoa satisfeita por ter alcançado o pretendido e orgulhosa de si pela coragem que teve em mobilizar mais pessoas para darem um “basta” contra a violência contra mulheres.

“Todos os cidadãos devem ter iniciativas do tipo. Não podemos continuar a ver mulheres a serem violentadas e assassinadas, sem fazer nada. A Violência Baseada no Género (VBG) é um crime público e temos que ter moral de sair na rua e mostrar. Sete casos foram registados só em 2018. Esta marcha é um basta que queremos dar a esta situação”, referiu Rudy Barros, em declarações a imprensa.

Para aquele jovem, todos devem ter iniciativas do tipo, independentemente do sexo, até porque, segundo diz, “homens também sofrem VBG, assim como as mulheres”.

“Apareceu um grande número de pessoas. Poderiam aparecer mais, há muitas vítimas em casa que não têm coragem de sair à rua, mas esta marcha serve para incentiva-las a denunciar. As expectativas foram atingidas, mas não queremos parar por aqui. Ainda há muitas mentes para serem sensibilizadas”, ajuntou Rudy Barros.

Este jovem disse ainda acreditar que um trabalho de todos, sociedade civil e autoridades, na prevenção poderá contribuir para acabar com este fenómeno na sociedade cabo-verdiana.

Em declarações à Inforpress, outra jovem, Daluz Fernandes, disse que vê esta marcha como uma iniciativa para fazer com que as pessoas tenham a noção do que se está a vivenciar na sociedade cabo-verdiana.

“Este é um flagelo muito forte que veio expandir nos últimos tempos na sociedade cabo-verdiana. Esta marcha teve muita adesão das pessoas. Gostaria de olhar mais homens, mas, infelizmente, teve maior percentagem de mulheres. Algo do género deve ser feito sempre, independentemente de surgimentos de casos”, defendeu.

Por seu turno, Edmilson Mendes classifica a marcha de “uma boa iniciativa”.

“Estou a ver cada vez mais homens a achar que a mulher é a sua propriedade. O que, na verdade, é apenas uma miragem. Quando começamos um relacionamento com uma mulher, penso que é para partilharmos bons momentos e não mau tratos e injúrias”, disse aquele jovem, completando que está e continuará nesta causa, enquanto houver casos de violência contra as mulheres.

Erickson Tavares, irmão de Elviane, da jovem que foi morta à facada pelo ex-companheiro na localidade de Alto São João, na ilha do Sal, disse que a sua família está “triste” pelo que está a acontecer no nosso país.

“Em muitos casos, como o da minha irmã, a Justiça, caso funcionasse, poderia tomar medidas que poderiam evitar os assassinatos. A minha irmã já tinha denunciado antes”, disse.

Este jovem de 18 anos mostrou, entretanto, a sua satisfação pela iniciativa e agradece aos mentores desta marcha, que, segundo disse, estão todos juntos nesta luta contra a violência contra mulheres.

Em declarações à Inforpress, o psicólogo Nilson Mendes disse esta semana que o feminicídio é o “capítulo final de um histórico de violência”, por isso defendeu que a mulher deve interromper este ciclo de agressões, físicas ou verbais, “o quanto antes”.

Aquela fonte afirmou que o ciclo, geralmente, começa com a humilhação e desclassificação da mulher.

“E pode progredir para a violência física. O homem que agrediu uma vez, a chance de voltar a ter um comportamento violento é grande”, acrescentou, adiantando que “a violência contra a mulher tem uma expressão preocupante para o país”.

Segundo disse aquele especialista, em quase todos os casos de feminicídio o homem faz ameaças prévias.

Inforpress/Fim

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