A cidade de São Filipe e um pouco por todos os recantos da ilha do Fogo receberam com “muita consternação” a notícia do falecimento, esta sexta-feira, do compositor e interprete, Daniel Varela “Putchota”.
Putchota, como era carinhosamente tratado por todos, foi um dos artistas (compositores) mais genuínos da ilha do Fogo e de São Filipe, em particular, abordando nas suas composições, aspectos relacionados com a vivência social, através de críticas, tendo as suas músicas sido interpretadas por artistas de renome como Neusa, Assol e Nela de Maria, esta última a residir há vários anos nos Estados Unidos da América.
Este ano, em meados de Abril lançou nos Estados Unidos da América o seu trabalho discográfico intitulado “Djarfogo in ca negabu”, com dez faixas musicais, todas da sua autoria e produzido por José Laço, que também fez os arranjos e masterização.
Além deste novo trabalho, Putchota gravou o seu primeiro trabalho discográfico no ano de 1998, com o agrupamento musical Raiz di Djarfogo, que pouco tempo depois do lançamento acabou por desaparecer do panorama musical de São Filipe.
Neuza de Pina e Assol Garcia, ambas da ilha do Fogo gravaram músicas de Putchota como “cuidado na bu bida” uma coladera que retrata o comportamento de um colega que aplicou todo o dinheiro ganho na estiva na construção de uma casa, para isso, abdicando às vezes até de comer, “lembrança antiga” que é um samba “à moda do Fogo” em que ele retrata os homens com quem conviveu.
Assol Garcia gravou a música “Merca I” que retrata a vida dos cabo-verdianos, sobretudo dos da ilha do Fogo, que depois de emigrarem para os Estados Unidos da América deixam os maridos e casam na América com o desejo de se transformarem em cidadãos, e os maridos por sua vez acha que a mulher está ganhando dólares para o mandar.
O activista cultural, Fausto do Rosário expressou com pesar “a partida” de Putchota, afirmando que “uma tristeza muito grande acaba de se abater sobre a ilha do Fogo, principalmente São Filipe, suas gentes e sua cultura” com o falecimento “daquele que respondia pelo nome de Daniel Semedo Varela, mas para todos nós, simplesmente Putchota”.
Daniel Semedo Varela, Putchota, que foi trabalhador da Enapor, vai hoje a enterrar, mas desde sexta-feira em vários espaços de convívios ouviam as músicas dele em sinal de homenagem a um compositor e interprete que de forma sabia soube retratar a vivência da ilha e da sua gente.
JR/FP
Inforpress/Fim