O responsável da empresa Fogo Coffee Spirit defendeu hoje a criação de uma autoridade com competência para marcar a data da colheita do café de Fogo, para garantir a manutenção da boa qualidade do produto.
Em declarações à Inforpress, Amarildo Baessa afirmou que este ano houve alguma precipitação no início da colheita, o que contribuiu para a má qualidade do produto.
Este facto, adiantou o responsável, levou a empresa a rejeitar o produto, porque, segundo explicou, havia misturas de cerejas maduras e verdes, o que implicava o recrutamento de mão-de-obra suplementar para separar a elevada percentagem de verde.
Com alterações climáticas registadas durante os meses de Janeiro e Fevereiro, com queda de chuvas e baixa temperatura, as partes expostas das cerejas aparentavam amadurecidas, enquanto a parte inferior estava verde, adiantou.
De acordo com a fonte do Fogo Coffee Spirit, na ausência da autoridade para definir a data de colheita, muitos produtores iniciaram a apanha, sendo que as pessoas contratadas não tiveram o cuidado de colher apenas as cerejas maduras.
Com o aumento da temperatura, a colheita em massa inicia-se a partir de 15 de Março (esta semana) e prolonga-se durante o mês de Abril, à semelhança dos anos anteriores, já que devido ao frio verificou-se um atraso no amadurecimento das cerejas.
Amarildo Baessa defende a existência de uma autoridade para regular o processo de colheita, observando que outrora a data era fixada pelo Ministério de Agricultura, cujos técnicos se deslocavam antecipadamente aos campos para definir a data, como forma de promover e proteger a qualidade do café do Fogo.
O responsável acrescentou que a empresa faz alguma recomendação, mas como ela não é uma autoridade, mas uma parceira, as suas recomendações não são respeitadas.
A colheita precoce e de má qualidade está a estragar todo trabalho realizado desde época colonial, notou.
Com relação à criação de uma autoridade de fiscalização do processamento do café, Amarildo Baessa explica que a ideia não é para proteger o Fogo Coffee Spirit,, mas para dignificar o produto, já que a secagem mão respeita os parâmetros de higiene.
“O café do Fogo tem um lugar muito prestigiado a nível internacional e não compactua com a forma tradicional e artesanal de secagem, descasque e o modo rudimentar de processamento”, disse, indicando que para melhorar o ambiente do negócio, o aumento do produto para exportação e aposta na qualidade, é preciso respeitar as condições de processamento, para que o produto não perca toda a característica de um bom café.
Segundo o mesmo, o método tradicional de processamento deve respeitar a questão de higiene, observando que existe um produto, com uma empresa que já criou uma marca e que está a trabalhar na sua promoção e há uma outra parte que está a estragar o produto, pondo em causa a imagem que o café do Fogo goza a nível internacional, porque quem tem acesso ao café processado sem qualidade vai dizer que não tem nada com aquilo que se fala lá fora.
Devido a colheita precoce e de má qualidade, o que levou a empresa a rejeitar a compra do produto, aliado como a decisão de alguns proprietários em não vender o café à empresa porque acham que conseguem vender todo o café devido à fraca produção, a previsão inicial poderá cair em um quinto, passando dos 79 toneladas de cerejas, a mesma quantidade do ano passado, para cerca de 60 toneladas.
A Fogo Coffee Spirit compra cada quilo de cereja a 110 escudo, mas o responsável da empresa afirma que 87 por cento (%) são polpas e cascas e apenas 13% do produto são comerciares. café comercial.
Fazendo as contas, incluindo os grãos que partem, o problema da dimensão e todo o custo de processamento, o responsável Coffee Spirit garante não há margem para vender o café comercial a 700 ou 800 escudos o quilo, e que para se obter algum lucro o produto tem de vender fora do mercado do arquipélago, para se poder ter alguma receita.
O café é cultivado, principalmente, na área montanhosa e fértil dos Mosteiros, envolto por diversos microclimas e sem presença de produtos químicos (produção orgânica), sobretudo do Morgadio de Monte Queimado, a maior propriedade unificada de produção de café na ilha, premiada, por duas vezes, com a Medalha de Ouro da Exposição Colonial no Porto, em 1934 e Lisboa em 1949, como “o melhor café do império”.
Igualmente, no início do século XX o café do Fogo foi apresentado na Exposição Universal de Paris, juntamente com a água da nascente de Aguadinha, tendo sido classificado como o melhor café do Império Português, superando em qualidade os cafés de Angola, São Tomé e Príncipe e Timor.
Em 1917 e 1918, o café do Fogo conquistou os primeiros prémios numa exposição agrícola realizada na Cidade da Praia, além de ter tido uma participação na grande exposição da Índia Portuguesa, em 1954.
A empresa Fogo Coffee Spirit vai participar no IV Fórum de Desenvolvimento económico local e o café da ilha vai estar na feira, na próxima semana, na Cidade da Praia.
Com Inforpress/Fim