quarta-feira, 16 outubro 2024

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Duas confrarias de reinado fazem-se hoje à estrada mantendo viva a secular tradição cultural da ilha

Duas confrarias de reinado fizeram-se à estrada para manter viva a secular tradição cultural, genuinamente foguense, o reinado, cuja origem e data da sua entrada na ilha é de todo desconhecido.

No passado o reinado, que tudo indica está ligado às festas dos reis celebrada em Portugal, conhecera outro brilho e dados históricos e o testemunho do “rei” Filipe Fernandes “Nhô Tchina” de 94 anos, indicam que em certa altura chegou a sair da Igreja Matriz da Nossa Senhora da Conceição (São Filipe),  confrarias ou grupos de reinados, constituídos, no mínimo, por três homens, estando hoje reduzido a dois grupos e com a tendência para o seu desaparecimento.

O reinado é uma tradição cultural secular, típica e exclusiva da ilha do Fogo, em que grupos de homens, devotos católicos, participam em ciclos de reza no período entre 06 de Janeiro e o dia das Cinzas, deslocando-se, de casa em casa, em quase todas as localidades da ilha, de pessoas que professam a fé católica.

A sua origem é um pouco duvidosa, e, para alguns, poderá estar relacionada à celebração da festa dos reis em Portugal, mas nenhum dos reinados vivos, nem Filipe Fernandes com os seus 94 anos e que parte pela 77ª nesta missão, sabem explicar, com precisão, a origem e a data da sua introdução na ilha, acreditando que a tradição esteve ligada ao peditório para a construção da antiga Igreja Matriz de São Filipe, o que pode ter ocorrido há algumas centenas de anos.

Até a década de 70 do século passado, os reinados eram constituídos por grupos de homens, três ou mais, católicos e praticantes, que andavam por toda a ilha, durante três luas, a realizar terços e pedindo ajuda a favor da Igreja, mas houve épocas em que cada confraria de reinado era constituída por sete homens, sendo que cada grupo era formado por um “rei” que dirige e controla tudo, um rei interino, um tesoureiro e participantes.

Acreditam que o objectivo maior do reinado era a evangelização e todos os integrantes do grupo teriam de ser católicos, baptizados/crismados, casados e escolhidos pelo padre.

A tradição mandava que os “reis” se reunissem no dia 06 de Janeiro, na Igreja Matriz, onde assistiam a missa, seguido de uma volta à igreja, para depois cada confraria seguir o seu próprio itinerário, dando volta à Ilha, dirigindo primeiro em direcção a Cova Figueira (sul) e depois retornavam para zona norte até chegar aos Mosteiros, uma vez que, devido a uma lenda, os mesmos não ultrapassa a ponte da ribeira de Baleia, que divide os municípios de Santa Catarina e Mosteiros, por desaparecimento de um grupo que tentou fazer a travessia.

Por isso mesmo, o reinado sai de São Filipe e vai até junto da ribeira de Baleia e volta atrás para ir aos Mosteiros via norte, desfazendo depois a volta até à cidade de São Filipe.

Cada confraria leva a imagem de uma santa como patrona, sendo que antigamente a imagem era cedida pela Igreja, para onde voltava, findo o reinado, mas hoje as imagens são guardadas em casa dos reinados. Já o terço ou “ladainha”, na maioria das vezes, continua a ser rezado em latim, ainda nos dias de hoje.

Além da imagem da santa, o reinado dispõe de outros instrumentos, nomeadamente um pequeno tambor para anunciar a sua chegada às localidades, um sino e o rosário, utilizados durante a realização do terço.

Este ano a paroquia de Nossa Senhora da Conceição, que no âmbito do lema do ano pastoral “evangelizar a cultura a partir da piedade popular”, convidou os reinados para a missa de ontem, domingo, onde além de falar do papel dos reinados ao longo dos anos, estes fizeram uma demonstração da actuação (cântico de boas festas) para que os mais jovens pudessem compreender e conhecer esta tradição.

Depois da missa o pároco “enviou” os mesmos (numa espécie de autorização), isso segundo padre Lourenço Rosa, pode servir como forma de motivar os jovens.

Com Inforpress

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