A certificação biológica do café do Fogo garante ao consumidor que este produto tem qualidade e ao produtor que vai receber mais pelo seu produto, declarou o gerente da empresa portuguesa Agricert, Hermenegildo Castanho.
Trata-se de uma empresa portuguesa que certifica produtos agrícolas e o seu gerente participou na mesa de diálogo, juntamente com a representante da organização não-governamental italiana, Cospe, Carla Cossu, na certificação biológica do café do Fogo.
Castanho indicou que o festival do café, no qual participa pela primeira vez a convite da câmara dos Mosteiros, toca num tema em que a Agricert trabalha, observando que a empresa que dirige trabalha muito o café, cacau e outras culturas tropicais.
Em relação ao café, disse, a empresa trabalha em 26 países do mundo e Cabo Verde era o único País de língua portuguesa onde não estava presente, e por isso aceitou o convite e já pensa em ajudar os produtores dos Mosteiros.
Hermenegildo Castanho disse que a certificação do café como de qualquer outro produto “é garantir ao consumidor de que este produto tem qualidade e garantir ao produtor que vai receber mais por este produto que tem qualidade”.
Ou seja, prosseguiu, “diferenciar e garantir a toda a cadeia alimentar que existe qualidade naquele produto” e com isso ganha o consumidor, porque sabe o que consome, e ganha o produtor, porque recebe mais dinheiro pela qualidade do seu produto.
Hermenegildo Castanho explicou que não é difícil certificar o café, observando que às vezes as pessoas colocam obstáculos onde não existem.
“Num país como Cabo Verde onde não são aplicados fitofármacos, onde a agressividade do clima é tão grande que as culturas e os insectos não se desenvolvem é muito fácil certificar o café”, disse o gerente da Agricert, salientando que não é chegar e fazer, porque tem um período de conversão e de retroactividade.
Para a certificação biológica, os produtores têm de pedir e sujeitar a controlo, pois, explicou, tem de ser feito um controlo anual porque em todo o processo de certificação há que haver registos escritos.
Esses registos passam por questões como quando colham e podam, o que colheeram, a quantidade colhida e onde entregou, para seguir a rastreabilidade do produto e ter a garantia de que este, através de análises administrativa e científica, garante ao consumidor que não há nenhuma substância proibida naquele café.
Segundo o mesmo, a certificação não implica ter um laboratório, porque as análises podem ser feitas fora do País, sublinhando que “se for feita no País o custo é menor porque não haverá custo de transportes, mas não implica ter um laboratório acreditado no País”.
Com relação ao café do Fogo, maioritariamente da espécie arábica, este disse que como qualquer arábica é um café “aromático e com muito gosto”.
Alguns produtores de café presente na sétima edição do festival, instituído em 2014 para promover e internacionalizar o café do Fogo, lamentam a fraca envolvência de pessoas no trabalho do café e a necessidade de desencravar as zonas altas e intermédias para facilitar o escoamento do produto.
Rosério Rodrigues, um dos produtores afirmou que nos dias de hoje “o café já não faz fé”, para ilustrar que os proprietários de terreno já não dependem da cultura do café como os seus antepassados.
O café é cultivado, principalmente, na área montanhosa e fértil dos Mosteiros (entre 350 a 1.300 metros), envolto por diversos microclimas e sem presença de produtos químicos (produção orgânica), sobretudo do Morgadio de Monte Queimado, a maior propriedade unificada de produção de café na ilha, premiada, por duas vezes, com a Medalha de Ouro da Exposição Colonial no Porto, em 1934 e Lisboa em 1949, como “o melhor café do império”.
Igualmente, no início do século XX o café do Fogo foi apresentado na Exposição Universal de café do Império Português, superando em qualidade os cafés de Angola, São Tomé e Príncipe e Timor.
Em 1917 e 1918, o café do Fogo conquistou os primeiros prémios numa exposição agrícola realizada na Cidade da Praia, além de ter tido uma participação na grande exposição da Índia Portuguesa, em 1954.
Inforpress/Fim