O Parque Natural do Fogo abrange toda a área da ilha acima dos 1.500 metros na vertente oriental da ilha, e acima dos 1.800 metros na vertente ocidental (o arco da Serra que limita a escarpa de falha que forma a Bordeira com o flanco externo e escarpa) o planalto interno – designada de Chã das Caldeiras –, o cone vulcânico (2.829 m acima do nível do mar) e o Perímetro Florestal de Monte Velha (a partir de 1.000 metros de altura)
Esta zona central da Ilha do Fogo corresponde às maiores altitudes de Cabo Verde.
O Parque Natural tem uma área de 8.469 ha (aproximadamente 85 km¬2) distribuídos pelos 3 concelhos da Ilha (Santa Catarina – 50%, Mosteiros – 28% e São Filipe – 22%).
Na zona interna do Parque – Chã das Caldeiras – com um diâmetro de 9 km morava uma população de aproximadamente 1.010 habitantes (antes da ultima erupção, sendo que metade regressou ou está em processo de retorno à Caldeira) distribuídos por quatro localidades: Bangaeira, Portela, Boca Fonte e Cova Tina, que vive essencialmente da agricultura e pecuária e da prestação de serviços no sector de turismo.
Antes da criação do Parque Natural do Fogo, os flancos exteriores da Bordeira eram utilizados pelos pastores da Chã e das localidades próximas, como espaço de pastagem de caprinos ou recolha de pasto, sobretudo herbáceas, que crescem espontaneamente. Além das herbáceas referidas, as espécies endémicas arbustivas, como a língua de vaca (Echium vulcanorum Chev.), o lantisco (Periploca laevigata ssp. chevalieri Brow.), a losna (Artemisia gorgonum Webb) e ervas endémicas como mostarda-brabo (Diplotaxis gracilis Webb) O. E. Schulz), piorno (Lotus jacobaeus L. var. jacobaeus), funcho (Tornabenea bischofii J.A. Schmidt.) são utilizadas como pasto, sobretudo nos períodos de escassez de chuva.
A necessidade de preservar e monitorar estas espécies, bem como as espécies faunísticas endémicas existentes no local, motivou a criação do Parque Natural do Fogo em 2003 através do decreto-lei n.º 3/2003 de 24 de Fevereiro em parceria com o Governo Alemão, através do então projecto Protecção dos Recursos Naturais na Ilha do Fogo – PRNF. O PRNF foi um projecto integrado que beneficiou cerca de 5.000 famílias e visava a valorização sustentável dos recursos naturais, através do melhoramento dos sistemas de uso agro-silvo-pastoril do solo e do funcionamento do Parque Natural do Fogo. O mesmo contribuiu para o melhoramento das condições de vida da população da região e a preservação da diversidade biológica, parte da qual é endémica.
A administração do Parque tem a tarefa de juntamente com a comunidade local instaurar uma participação activa que permita a protecção e a recuperação ambiental do Parque Natural numa colaboração recíproca.
Características Físicas e Ambientais
Geomorfologia e Vulcanismo
A ilha do Fogo representa um único grande vulcão, que provém desde os 4.000 m de profundidade e atinge quase os 3.000 m de altitude. A ilha divide-se naturalmente, do ponto de vista espacial, em:
- região fora da cratera (Bordeira) e
- região dentro da Bordeira, isto é, a parte interior da cratera (Caldeira).
O Parque Natural do Fogo corresponde à zona alta da Ilha do Fogo, altitudes acima dos 1.500 m sobre o nível do mar abrangendo a vertente externa e interna da caldeira vulcânica da Ilha do Fogo, o planalto interno (Chã), o cone vulcânico e o Perímetro Florestal de Monte Velha.
No fim do século XVIII terminava a histórica actividade vulcânica precoce, caracterizada por erupções frequentes da cratera principal do Pico do Fogo, passando-se a assistir a raras erupções, provenientes das zonas mais profundas, ou seja, do solo da caldeira. A última erupção da cratera do Pico do Fogo aconteceu em 1785 (RIBEIRO 1960). No século XX ocorreram duas erupções, em 12 de Junho de 1951 e 2 de Abril de 1995, ambas a partir de crateras secundárias na base do vulcão, e no seculo XXI uma erupção, 23 de Novembro de 2014, igualmente a partir de cratera secundaria na base do vulcão.
Clima
Inserido na Ilha do Fogo, o clima do Parque Natural apresenta em linhas gerais as características do clima saheliano dominante em Cabo Verde. Porém, a altitude apresenta notável diferenciação micro-climática, expressa na temperatura, na humidade do ar, na nebulosidade e na precipitação.
O clima em Cabo Verde é dominado pela massa de ar proveniente do sector oriental da célula açoriana das altas pressões subtropicais que alimentam os alísios marítimos do Atlântico Norte. Esta massa de ar apresenta, regra geral, uma espessura da ordem dos 1000 metros. Nas latitudes de Cabo Verde o seu percurso marítimo e a humidade que carrega sobre o mar permitem a formação de nuvens em altitude, sobretudo na vertente norte das ilhas.
A área delimitada pelo Parque encontra-se, regra geral, acima dos alísios e da cobertura nebulosa. Pode ocorrer um fluxo aéreo de direcção contrária aos alísios, o contra-alísio, quente e seco sobretudo durante o dia, quando o céu geralmente limpo permite uma grande amplitude térmica diurna. A temperatura é baixa durante a noite e nos meses de inverno boreal, podendo ocorrer geada durante a noite devido a solidificação do orvalho, o que confirma valores da ordem de zero graus Celsius, pelo menos ao nível do solo.
A ocorrência do orvalho permite um suplemento de humidade, sobretudo durante a estação seca. Esta ocorrência permite, inclusive, duas colheitas anuais em culturas de sequeiro em Chã das Caldeiras, caso único no arquipélago.
A precipitação média anual oscila fortemente segundo a exposição e a altitude, mas também de ano para ano.
Acima de 1.600 m, que é designado de zona de inversão, a humidade desce rapidamente. A região alta da caldeira com o seu pico-cone apresenta ainda até os 2.000m de altitude, 3 meses húmidos enquanto que a zona do Pico de Fogo até 2.829m é praticamente árida.
Flora
A maior parte do Parque Natural do Fogo situa-se na zona semiárida da ilha. Os solos são cobertos com diferentes espessuras de cascalho de lava e suportam uma vegetação que de forma natural se compõe, na sua maioria, por espécies endémicas. Das 82 espécies endémicas de plantas superiores existentes em Cabo Verde, 37 aparecem na Ilha do Fogo (BROCHMANN 1997, HANSEN 1993) das quais 5 são endémicas locais (são conhecidas apenas no Fogo: língua de vaca [Echium vulcanorum], fruncho [Tornabenea bischofii], cravo-brabo [Erysimum caboverdeanum], sabão-de-feiticeira [Verbascum cystolithiucum] e mostardinha [Diplotaxis gracilis]).
Fauna
A fauna do Parque Natural do Fogo é bastante pobre. Além dos animais domésticos, não existem outros mamíferos. As aves da zona foram estudadas de forma intensiva, mas conhece-se pouco sobre os outros grupos de animais. No total, existem 100 espécies de coleópteros no Fogo. Oitenta estão na Lista Vermelha - 37 estão extintas, ou seja, classificadas como desaparecidas (GEISTHARDT 1996), 41 espécies foram referenciadas em documentos (GEISTHARDT 1996), 13 são endémicas e 5 dessas espécies endémicas têm a sua zona de aparição limitada. Trinta e três espécies de aranhas são conhecidas, das quais 13 estão na Lista Vermelha (SCHMIDT & GEISTHARDT 1996).
Das 18 espécies de aves que nidificam no Fogo 10 existem na zona, 3 das quais são endémicas (HAZEVOET 1995, HAZEVOET 1996). As 3 espécies endémicas são dependentes da zona do Parque Natural para a sua nidificação.
O tamanho da população da ave endémica Gon-Gon (Pterodroma feae), foi estimado em 50 a 60 pares em Janeiro de 1998 (informação obtida dos biólogos do Parque Natural da Madeira). HAZEVOET (1982) ainda indicava cerca de 300 pares. A espécie nidifica geralmente na parede interna da Bordeira e voa durante o dia em direcção ao mar para procurar alimentos. O abutre (Neophron percnopterus) que antigamente era visto com frequência no Fogo, desapareceu desta ilha.
Pouco se sabe ainda sobre as espécies de lagartixa e osga, que existem na zona. Não obstante, existem 8 espécies dessas duas famílias no Fogo, das quais 6 são endémicas, 1 espécie de lagartixa, Mabuya fogoensis fogoensis tem a sua existência limitada ao Fogo.
Legislação E Objectivos
Legislação
A criação do Parque Natural do Fogo enquadra-se no âmbito de medidas administrativas e legais produzidas em Cabo Verde, visando a protecção da biodiversidade e a valorização dos recursos naturais na perspectiva do desenvolvimento sustentável.
O diploma legal que regulamenta os Parques Naturais bem como as demais áreas protegidas na República de Cabo Verde é o decreto-lei n.º 3/2003 de 24 de Fevereiro.
A criação deste quadro legal foi precedida de algumas outras medidas durante a última década do séc. XX. Até finais da década de oitenta a legislação em matéria de protecção de recursos naturais em Cabo Verde limitavam-se a casos pontuais de protecção florestal, da fauna e da flora silvestre e de solos. As bases para a política ambiental foram estabelecidas na lei 86/IV/93 de 26 de Julho. Aquela lei abrange declarações de intenções para a conservação das espécies (Flora e Fauna), a intenção da criação de uma rede de áreas protegidas, medidas para a conservação dos solos e das águas, intenções da criação de leis para estudos de impacto ambiental, instrumentos da política ambiental, etc. (BOLETIM OFICIAL 1993, I SÉRIE – N.º 27). Em 1997 foram publicados decretos regulamentares para partes desta lei (BOLETIM OFICIAL 1997, I SÉRIE – N.º 25), em que se faz referência às áreas de conservação das espécies e da criação de áreas protegidas.
Objectivos das Áreas Protegidas
- Conservar a biodiversidade, particularmente a flora e a fauna endémica, os habitats naturais singulares e os processos ecológicos, com particular atenção para a colonização das lavas;
- Recuperar as espécies em perigo de extinção e restaurar os habitats degradados;
- Evitar a ocupação de escoadas de lavas históricas, por forma a salvaguardar a sua integridade e proteger os solos evitando a sua erosão e degradação por más práticas de uso;
- Envidar esforços para que o aproveitamento de recursos naturais renováveis se faça sem diminuir a sua capacidade de recuperação, evitando efectuar transformações no meio que resultem irreversíveis e irreparáveis;
- Conservar o património construído de interesse etnográfico e histórico, contribuir para a manutenção dos elementos tradicionais da cultura local e favorecer as actividades económicas endógenas compatíveis com a conservação do meio;
- Facilitar o desenvolvimento de um nível adequado de infra-estruturas e comunicações nas povoações inseridas no Parque;
- Promover o desenvolvimento sustentável da população residente e contribuir para a melhoria das suas condições de vida, propiciando progressos sociais, rendimentos complementares e infra-estruturas idóneas;
- Facilitar a contemplação e interpretação dos elementos naturais e culturais do Parque, de forma a que não representem um prejuízo para a conservação dos seus valores nem para o seu desenvolvimento;
- Contribuir para a manutenção da paisagem de tipo natural e rural, procedendo à sua restauração nos casos em que tal for necessário;
- Promover o conhecimento da história natural e social do Parque, e a divulgação dos seus valores entre a população e o sector turístico;
- Promover as actividades educativas, científicas e o contacto do Homem com a natureza. Conservar a biodiversidade, particularmente a flora e a fauna endémica, os habitats naturais singulares e os processos ecológicos, com particular atenção para a colonização das lavas;
O Parque Natural do Fogo constitui uma unidade de interesse para diversas áreas científicas, tanto para o vulcanólogo, o geólogo como para o ecólogo, o botânico e o sociólogo. A personalidade do Parque Natural do Fogo fica definida pelos elementos que conformam a sua paisagem, tais como o vulcão, a caldeira e a Bordeira com as suas ribeiras profundas e a vegetação arbustiva única, a agricultura tradicional numa paisagem lunar e os povoamentos de Chã das Caldeiras.
Apesar de alguns destes elementos não serem exclusivos do Parque, aqui eles combinam-se de tal forma que configuram uma realidade paisagística única.
É preciso conservar a singularidade do Parque Natural do Fogo para que se possa aproveitar da diversidade que ele nos oferece.
O parque Natural do Fogo encontra-se situado no coração da ilha do Fogo, e abrange o vulcão, a Bordeira, o perímetro florestal de Monte Velha, a cratera e uma paisagem natural única em todo Cabo Verde que merece ser apreciada. O cenário fantástico do Parque Natural do Fogo torna-o num local de paragem obrigatória para os visitantes.
Parque Natural do Fogo, um espaço óptimo de lazer, aventura, inovação, convívio e descanso. A beleza paisagística, a especificidade da fauna e da flora e sua conjugação com o meio, representam no Parque Natural do Fogo uma herança única, onde as funções ecológicas e as associações naturais estão ainda em grande parte intactas.
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