A Associação Projecto Vitó vai transmitir em tempo real a partir de sábado, 13, a actividade diária de um filhote de Gongon (Pterodroma Feae) através de uma câmara instalada num ninho situado nas proximidades de Chã das Caldeiras.
A informação foi avançada à Inforpress pelo professor de Zoologia da Universidade de Barcelona, Jacob Gonzalez Solis, que há 15 anos colabora com as autoridades cabo-verdianas ligadas ao sector do ambiente na conservação das espécies endémicas, a organização não-governamental Projecto Vitó.
Depois de várias tentativas, segundo a mesma fonte, no próximo sábado, “se não houver contratempo”, será retransmitida para o público interessado, através de uma câmara instalada num ninho de Gongon, perto de Chã das Caldeiras, a vida de um filhote de Gongon durante todo o seu desenvolvimento, que decorre até princípio de Junho, altura em que estará em condições de voar.
Durante o dia o filhote está a dormir e à noite os progenitores voltam para o alimentar, e, normalmente, explicou, a visita dos progenitores acontece quando não há lua e todas as pessoas interessadas podem assistir, em directo e em tempo real, o que acontece.
“É uma coisa muito importante e um instrumento para as escolas, criança e pessoas que têm sensibilidade para a natureza para apreciar e acompanhar este processo”, disse o professor, lembrando que se trata de uma espécie endémica de Cabo Verde e com esta iniciativa espera que esteja a contribuir para a sua protecção.
Com relação a esta espécie, Jacob Gonzalez Solis indicou que este ano foi encontrado o ninho número 100 na ilha do Fogo, resultado do trabalho do Projecto Vitó, conjuntamente com a Universidade de Barcelona dos últimos dez anos.
“Foi muito difícil chegar a este número, e chegar a 100 ninhos de Gongon é importante, porque ajuda a entender onde estão a reproduzir e donde vêm as ameaças”, mencionou, salientando que a maioria das ameaças tem origem nas populações, sendo as mais importantes os gatos, os ratos, algumas vezes as pessoas e a poluição luminosa.
Segundo a mesma fonte, este ano há o registo de seis aves adultas de Gongon que foram mortas por acção de gatos, salientando que se trata de uma espécie com vida “muito longa”.
Para ter sucesso, com uma população estável, é necessário aumentar a sobrevivência adulta para poder reproduzir muitas vezes ao longo da sua vida.
“Foi importante encontrar os 100 ninhos que irão ajudar a rever os limites do Parque Natural do Fogo (PNF) e, eventualmente, acrescentar áreas protegidas, porque muitos dos ninhos estão fora do limite do parque e não tem nenhuma protecção neste momento”, referiu.
Jacob Gonzalez Solis mostrou-se preocupado com a informação que aponta para a instalação de antena de telecomunicações (telefone) numa das áreas mais importantes de cortejo de Gongon a nível da ilha, porque poderá causar “dano muito grande” à população da ave.
Segundo o mesmo, o lugar escolhido é o mais importante de cortejo de Gongon e com instalação de antenas esta espécie poderá morrer ao colidir com as antenas.
Salientou que neste local, situado a noroeste da ilha, o projecto tem estado a colocar redes, nos últimos quatro anos, para captura e recaptura de Gongon para conhecer o tamanho da população, fazer o seguimento e, numa só noite chegou a capturar 50 animais o que demonstra que “é o melhor lugar” de cortejo de Gongon na ilha.
Ainda relacionado com o projecto de conservação das aves marinhas, financiado pela Fundação MAVA e coordenado pela Birdlife International, três estudantes cabo-verdianos vão frequentar curso em Master de Biodiversidade ministrada pela Universidade de Barcelona (Espanha), para capacitação técnica visando melhorar a contribuição na conservação das aves marinhas.
Inforpress/Fim