As obras de requalificação urbana, em curso, estão a transformar Cova Figueira numa “cidade de becos” e sem espaços para estacionamento das viaturas na principal rua, considera o ex-candidato da autarquia de Santa Catarina do Fogo, Eugénio Veiga.
Este posicionamento foi defendido por Eugénio Veiga, que procurou a comunicação social para protestar contra aquilo que considera “edificação de uma autêntica muralha na parte mais nobre da cidade de Cova Figueira”, mas também contestada por alguns proprietários de imóveis na referida cidade.
“Esta obra, se estivesse a decorrer em qualquer outra cidade de Cabo Verde ou do mundo, já teria havido um levantamento popular massivo protestando contra esta intervenção”, disse Eugénio Veiga, sublinhando que para além da questão urbanística, a requalificação em curso “mata todas as leis existentes, nomeadamente as de ordenamento do território e do urbanismo”.
Este indicou que as ruas têm uma função principal, nomeadamente social, económica e outras, observando que a intervenção no antigo largo “é muito mais grave” porque, explicou, se há a intenção de construir um centro de lazer onde a movimentação poderá ser permanente, a mesma põe em causa o funcionamento adequado de determinadas instituições como a Polícia Nacional e o Centro de Saúde, lembrando que pode ter ocorrência que implica deslocação de pessoas e concentração de viaturas.
“Neste momento e com esta perspectiva de edificação, a rua mais importante da cidade, que é a estrada principal de Cova Figueira, ficou quase que desvirtuada, é um erro gravíssimo”, aludiu Eugénio Veiga que, com este protesto, referiu quer chamar atenção da câmara no sentido de se reflectir, parar a obra e colocar a situação anterior, ainda que seja transformado numa rua pedonal.
“Com esta intervenção Cova Figueira ficou categoricamente uma cidade de becos e sem espaços dignos”, apontou o ex-candidato à presidência da câmara, para quem há também a questão ambiental porque as figueiras que existiam nas ruas com a sua simbologia para a própria cidade foram todas destruídas.
Independentemente de ser do Governo ou da câmara “é uma obra gravíssima que não traz nenhum elemento, nem de competitividade, modernidade e nem para o desenvolvimento da cidade de Cova Figueira”, destacou, sublinhando que a rua principal onde está situada a igreja católica e que normalmente, por ocasião das festas do dia do município e da Santa Padroeira, servia como espaço para realização de um dos eventos (procissão) foi cortada e assim tudo terá de ser reconfigurado novamente.
“É um crime público porque trata-se de um património público que está sendo completamente desfeito, mas também um crime particular porque várias casas ficaram encurraladas por causa desta construção e o direito ao acesso às ruas deixou de existir, desvalorizando a própria cidade”, advogou a mesma fonte, que apelou a instituição camarária a sanear certas irregularidades o quanto antes.
Mantendo a requalificação assim como está em caso de grande concentração as viaturas não tem espaço para pararem e mesmo se a lei for aplicada com rigor ninguém poderá estacionar na rua principal que ficou tão estreita, concluiu.
De igual modo, alguns proprietários de imóveis “destruídos ou bloqueados” mostraram-se descontentes com a realização dos trabalhos de requalificação urbana.
É o caso de Maria Isabel do Carmo Fontes Lopes, residente nos Estados Unidos da América e uma das herdeiras de uma garagem que foi demolida pela autarquia e que está revoltada com a situação, porque trata-se de uma propriedade que o seu pai, já falecido, tinha há mais de 60 anos.
A mesma fonte considerou que a sua demolição constitui uma surpresa e ao mesmo tempo um choque para os familiares, sobretudo pelo facto de a câmara ter retirado duas viaturas que pertenciam ao seu pai e que estavam no seu interior e “jogado no lixo”, exigindo não só a reconstrução da garagem como a recolocação das viaturas no seu interior.
Por sua vez Edgar Amílcar Lopes, residente nos Estados Unidos da América, que veio à ilha para se inteirar da situação da residência do seu pai, um centenário, disse que com as obras a referida casa ficou encurralada.
“A pessoa que mandou fazer os trabalhos residiu vários anos nesta casa e sem pagar um centavo de renda e foi uma bofetada por tudo aquilo que o meu pai lhe fez”, disse Edgar Amílcar Lopes, lembrando que esta é a rua principal da cidade de Cova Figueira e que a outra é a estrada que vai para os Mosteiros e que esta obra bloqueou a rua e a própria casa dos pais.
A primeira fase da requalificação urbana da cidade de Cova Figueira, um investimento de cerca de 12 mil contos, foi iniciada em Março de 2020 e está sendo executada pela empresa Sociedade de Empreitadas Imobiliárias e Construções, Semico.
A requalificação urbana prevê a construção de duas ruas alternativas, uma na parte alta passando por Lapinha e outra na zona baixa, passando por Queimada Baixo, mas as intervenções abrangem as zonas que vão desde Maria da Cruz/Domingos Lobo até Enseada Helena, incluindo o bairro de Lapinha, e prevê ainda a construção de praças, ruas, substituição de bancos e a nova rede de iluminação pública.
O presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina do Fogo encontra-se ausente da ilha, devendo chegar ainda hoje e por isso não foi possível ouvir o seu posicionamento sobre estes protestos.
Inforpress/Fim