A requalificação da praça João Paes de Vasconcelos (4 Setembro) na cidade de São Filipe, iniciada há cinco meses está sendo alvo de criticas, quer por técnicos como pelos defensores do património edificado.
A sua reabilitação do ponto de vista histórico e cultural, com demolição do piso em betonilha e a sua substituição pelo piso em calçada basáltica com desenhos artísticos, cobertura dos coretos, retirada da vedação metálica, visava repor os seus traços originais, desde o piso, coreto e a toda a sua configuração, com calceta artística de modo a combinar com edifício da Câmara Municipal.
No entanto, a construção ou revestimento dos muros do lado sul, oposto ao edifício dos Paços de Concelho, assim como os canteiros e toda a berma lateral, com pedra vistas, está na base de críticas por parte de engenheiros, arquitectos e pelo antigo curador do centro histórico de São Filipe, Fausto do Rosário, que já endereçou “cartas abertas” ao presidente da câmara solicitando esclarecimentos e posicionamento relativamente a reabilitação deste património edificado.
Várias pessoas ligadas a área de construção civil contactadas pela Inforpress manifestaram-se contra a adulteração do muro, afirmando que não se pode corrigir erros do passado com novos erros.
O engenheiro de construção civil, João Miguel Amado Alves e antigo membro da Curadoria do centro histórico de São Filipe, residente a escassos 50 metros da praça, é uma, de entre várias pessoas, que está preocupada com a reabilitação da praça.
Para o mesmo, fala-se na reabilitação, requalificação e acessibilidade, mas os materiais utilizados não têm nada a ver com a originalidade e praticamente está-se a construir uma praça nova com o mesmo ‘layout’ que tinha antigamente, com excepção do primeiro canteiro que, geometricamente, nunca foi daquele formato e não se adapta com a configuração da infraestrutura.
“Pelo indício que tem neste momento, os cadeirantes não podem aceder à praça”, assegurou o engenheiro, para quem não se está a analisar se a praça está bonita ou não, porque isto é relativo, sublinhando que “nesta situação e com os materiais utilizados, podem utilizar também pavês” porque com a requalificação está-se a descaracterizar o património edificado, deixando claro que “não é a sua forma geométrica que lhe dá o titulo de património”.
Para o engenheiro, os materiais utilizados, pedra vistas, são adequados para novas construções e não para uma coisa pré-definida, salientando que este tipo de material não tem nada a ver com o património edificado, pois trata-se de uma técnica moderna, mais custosa que outros materiais, exige manutenção, além de ser muito cortante e não respeita as regras de segurança, sobretudo para crianças.
“Os canteiros não têm esta configuração e estão a descaracterizar a praça” advertiu o engenheiro, para quem a pedra vista não é propício para esta praça em particular, ou então as autoridades deviam deixar de falar de “reabilitação ou requalificação do património” e a falar de uma nova construção apenas com o tamanho anterior e com os coretos que ainda não se sabe se vão ser mantidos ou não.
Para João Miguel Amado Alves, a culpa é do Instituto do Património Cultural (IPC), que elaborou o projecto noutra perspectiva, mas a Câmara Municipal de São Filipe, que tem o dever moral com a preservação do património pecou pelo facto de não ter, ao menos, colocado o projecto em discussão publica para ver a melhor solução, que no dizer de João Miguel, de certeza não seria arrombar para fazer nova praça com novos materiais.
Manuel Roque Silva Júnior, que durante a sua infância brincou nesta praça, na sexta-feira, a convite de um amigo, passou pelas obras da requalificação em curso e apesar de não conhecer os pormenores da obra e por isso não pode dar um depoimento definitivo, avançou que ficou chocado com alguns aspectos.
“O que me chocou e choca, ‘prima facie’, é a configuração do canteiro”, destacou Manuel Roque Silva.
O antigo curador do centro histórico de São Filipe, Fausto do Rosário, avançou à Inforpress que por enquanto não pretende manifestar publicamente o seu posicionamento esperando reacções do presidente da câmara sobre as suas cartas a pedir o esclarecimento e uma posição sobre as obras de requalificação da praça.
A obra de requalificação da praça foi adjudicada a 25 de Outubro de 2019 e o prazo para a sua execução de cinco meses termina dentro de quatro dias, mas no início de Março, durante a visita do ministro da Cultura e Industrias Criativas (MCIC) foi definido novo prazo que termina no final de Abril.
A praça João Paes de Vasconcelos foi inaugurada na década de 30 do século passado e passou depois da independência a ser designado de praça 4 de Setembro.
Está localizada no núcleo histórico da cidade, defronte ao edifício de Paços do Concelho e rodeado de sobrados emblemáticos, construídos no século passado.
Inforpress/Fim