O presidente da Associação dos Produtores do Café (Pró-café), Sidónio Monteiro, defendeu a comparticipação do Estado nos trabalhos de protecção contra erosão de solos nas zonas altas de Mosteiros, para que haja mais espaços para cultivo do café.
Em entrevista à Inforpress, no quadro da oitava edição do festival do café, que vai acontecer nos dias 22 e 23, na cidade de Igreja (Mosteiros), Sidónio Monteiro advogou que “não há uma política, a nível nacional, para o sector do café”, sublinhando que para tal são necessários estímulos e incentivos para que haja expansão no cultivo do café.
“Os trabalhos de protecção dos solos há muitos anos deixaram de ser feitos e tem havido dificuldades com terrenos apropriados para cultura de café em consequência do aumento da erosão de terra”, afirmou.
Além da comparticipação de Estado nos trabalhos de protecção de solos contra a erosão nas zonas de produção de café, o presidente da Associação Pró-café, defendeu, ainda, a necessidade do fomento deste sector para facilitar as pessoas a encontrarem melhores formas de tratar o produto.
Seja com formação ou com algum incentivo, continuou, nomeadamente financeiro, porque, explicou, o custo tem sido elevado e as pessoas não têm capacidade de fazer “grandes investimentos”.
Os incentivos, segundo o mesmo, poderiam vir através de uma linha de crédito bonificado e outros, para criar as condições, sublinhando que o ideal seria que a empresa Fogo Coffee Spirit melhorasse o seu relacionamento com os proprietários, por exemplo.
A “Agro-indústria e o desenvolvimento local” é uma das questões a serem analisadas na oitava edição do festival do café e questionado se se pode falar de agro-indústria neste momento, Sidónio Monteiro advogou que “ainda não se pode falar em agro-indústria, embora seja algo importante para o caminho a seguir”.
“Temos dificuldades enormes com o tratamento do café, temos apenas uma empresa que é o Fogo Coffee Spirit que tem estado a fazer tratamento de café”, referiu o presidente da associação, salientando que “infelizmente não existe um grande relacionamento entre a empresa e os proprietários e produtores de café”.
Para o mesmo, devia existir uma maior colaboração para que a empresa ganhasse e os proprietários também ganhassem, observando que é preciso trabalhar para melhorar o ambiente de relacionamento entre a empresa e os proprietários.
Para o responsável da associação é necessário melhorar a organização dos produtores que, segundo o mesmo, “está bastante deficiente em termos de funcionamento”, para que haja a junção de esforços para desenvolver a fileira do café.
“Não há uma grande união e a esperança era com a empresa Fogo Coffee Spirit que no início chegou a colaborar com os proprietários, mas que neste momento não está a colaborar de melhor forma com os proprietários”, salientou o responsável da associação.
Outro problema que afecta o sector é o aumento do preço de mão-de-obra, seja nos trabalhos agrícolas como na colheita do café, e este ano para colheita de quatro quartas (40 litros de cerejas) alguns proprietários pagaram o preço de 600 escudos e outros muito mais do que isso.
Com relação a produção, Sidónio Monteiro indicou que não foi superior ao do ano de 2021, sublinhando que em algumas zonas a produção melhorou e noutras outras foi “muito inferior à dos anos anteriores”, devido à diferença de região e do ciclo de chuvas.
Quanto ao festival que já vai na sua oitava edição, Sidónio Monteiro indicou que os efeitos ainda são poucos, mas tem servido para promover o café e a região e, neste aspecto, têm tido utilidade, sublinhando que é preciso dar um passo mais decisivo para melhorar condições de produção e tratamento do café.
No ano passado, o Estado chegou a anunciar a transferência da posse de terrenos nas zonas altas de Mosteiros à empresa Fogo Coffee Spirit, mas perante a reivindicação das famílias que trabalham nestas terras há vários anos a situação continua pode definir.
Inforpress/Fim